SERMÃO PARA O "DOMINICA I ADVENTUS"

A crise na Igreja e

Nossa Senhora de Fátima

      "Dum autem irent emere venit sponsus et quae paratae erant intraverunt cum eo ad nuptias et clausa est ianua. Novissime veniunt et reliquae virgines dicentes domine domine aperi nobis. At ille respondens ait amen dico vobis nescio vos, vigilate itaque quia nescitis diem neque horam"

     ("E, indo elas comprar o azeite, chegou o noivo, e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas. E a porta estava fechada. Mas, por fim, chegaram também as virgens loucas, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos a porta. Mas ele, respondendo, disse: Em verdade vos digo que não vos conheço. Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora")

     

     O fragmento que acabei de ler faz parte do Evangelho da Missa "Comum das Virgens" e é muito apropriado para complementar este primeiro domingo do Advento, que tem um tom apocalíptico marcante.

     "Et Clausa est ianua"(E a porta se fechou)... Que momento terrível! Imagine a sensação de alguém vendo as portas do céu se fecharem diante de si. Talvez com o mesmo desespero daqueles que viram o momento em que Noé fechou as portas da Arca.

     Mas, como sabemos, Noé abriu os braços para todos que queriam entrar na Arca antes do início do dilúvio, assim como a Igreja abre os braços para todos que querem chegar ao Céu, mas muitas pessoas recusaram, assim como muitos hoje se recusam a ouvir os ensinamentos de Cristo, desconsiderando-o como uma figura excêntrica e anacrônica.

     O conde de Rivarol disse uma frase que pode resumir muito bem a ideia central da liturgia de hoje: "Quando se tem raiva um dia antes dos outros, isso acontece durante essas vinte e quatro horas para uma pessoa com senso comum"(Quando alguém está certo um dia antes dos outros, ele é considerado, durante essas vinte e quatro horas, como uma pessoa privada de bom senso).

     Há muitos momentos no evangelho em que Cristo pronuncia palavras que nenhum ser humano poderia pronunciar. Palavras que só podem vir de Deus, porque se elas viessem simplesmente (ex voluntate carnis) "da vontade da carne" (como diria São João), pareceriam palavras de um louco.

     O discurso apocalíptico de São Lucas que ouvimos hoje tem suas raízes no Poder Divino de Cristo e em Seu poder de reinar como Rei universal. A coerência de Sua doutrina, Sua admirável vida "cheia de Graça e Verdade", Seus milagres, Sua morte singular e Sua gloriosa ressurreição nos provam que Ele não era um homem privado de bom senso, mas Aquele que veio para iluminar a natureza humana que havia se tornado permanentemente dominada pelo poder da Besta Antiga, que submeteu o ser humano a um destino muito inferior ao que Deus havia planejado para ele.

     Hoje, a Igreja nos lembra, por meio das Escrituras, que Cristo também cumprirá Sua promessa de retornar. Seu Segundo Advento não será mais para trazer uma mensagem, mas para julgar as nações e dar a cada um o que lhe corresponde. Aquele que veio como um Cordeiro retornará como um Leão. Por essa razão, apesar do fato de que os céus naquele momento serão abalados, Nosso Senhor insiste em dizer "alegrem-se" porque sua libertação está próxima. O Advento é certamente um tempo penitencial, mas também um tempo para nos alegrarmos na Justiça de Deus, no fato de que um dia Ele cumprirá Sua promessa de receber no Reino Celestial aqueles que perseveraram na Igreja e dirá àqueles que se recusarem a entrar as palavras mais terríveis e assustadoras que uma pessoa pode ter a desgraça de ouvir do Senhor: "Amém dico vobis nescio vos"("Em verdade vos digo que não vos conheço").

     E hoje vemos esse Julgamento Divino descrito nesse evangelho de duas maneiras: a primeira relacionada ao julgamento de Jerusalém e a segunda apontando para o Julgamento Universal. Essas duas seções correspondem à linguagem profética do tipo/antitipo.

     O Senhor diz que "então haverá grandes terremotos em vários lugares, e pestilência e fome, e terrores do céu, e grandes sinais". "Imediatamente, depois da tribulação daqueles dias, o sol se escurecerá, a lua se tingirá com a cor de sangue e as estrelas cairão do céu". O sol na Sagrada Escritura é o símbolo da verdade religiosa, a doutrina, a lua do mundo natural, o que é mundano em oposição ao que é espiritual (não em vão, a cor prateada da lua está sempre relacionada à bruxaria e ao paganismo).

     Décadas atrás, quando Nossa Senhora apareceu em Fátima, aconteceu um milagre que causou medo em todas as pessoas presentes, e esse milagre foi o Milagre do Sol.

     Até mesmo os jornais publicaram depoimentos de testemunhas que disseram ter visto uma atividade solar extraordinária, como o Sol parecendo "dançar" ou ziguezaguear no céu, avançar em direção à Terra e ser ofuscado com uma aparência prateada.

     Muitas testemunhas relataram que, após um período de chuva, as nuvens escuras se abriram, revelando o Sol como um disco opaco e giratório no céu. Ele foi descrito como sendo significativamente mais escuro do que o normal. Em seguida, foi relatado que o Sol se inclinou em direção à Terra antes de voltar em ziguezague para sua posição normal. Testemunhas relataram que suas roupas, antes molhadas, ficaram "repentina e completamente secas, assim como o chão úmido e lamacento, antes encharcado por causa da chuva que caía". Nem todas as testemunhas relataram ter visto o Sol "dançar". Algumas pessoas viram apenas a mudança de cor do sol. Várias pessoas não viram nada.

     Um advogado presente na época, chamado Almeida Garrett, disse: "O disco do sol não permaneceu imóvel. Isso não era o brilho de um corpo celeste, pois ele girava sobre si mesmo em um turbilhão louco quando, de repente, um clamor foi ouvido por todas as pessoas. O sol, rodopiando, parecia se soltar do firmamento e avançar ameaçadoramente sobre a Terra, como se fosse nos esmagar com seu enorme peso de fogo. A sensação durante esses momentos foi terrível."

     Um padre chamado Joaquim Lourenço relatou: "Sinto-me incapaz de descrever o que vi. Olhei fixamente para o sol, que parecia pálido e não machucava meus olhos. Parecendo uma bola de neve, girando sobre si mesma, de repente pareceu descer em zigue-zague, ameaçando a terra. Apavorado, corri e me escondi entre as pessoas, que estavam chorando e esperando o fim do mundo a qualquer momento."

     De qualquer forma, há muitos outros relatos que podem ser encontrados em vários livros sobre Fátima, mas estou inclinado a pensar que o que Nossa Senhora estava tentando comunicar não era apenas a magnificência e o poder de Deus sobre a criação, mas uma mensagem visual que acompanhava a mensagem verbal que Ela deu aos pastorinhos: "O medo que vocês estão sentindo agora, quando pensam que o sol vai cair, é o mesmo medo que as pessoas sentirão no futuro, quando virem seu sol espiritual (a Doutrina da Igreja, toda a sua fé) parecer que está prestes a cair, eclipsado por uma cor prateada mundana (uma cor argentina). Algumas pessoas verão tudo, algumas pessoas verão apenas essa cor mundana desfigurando e obnubilando a doutrina e algumas pessoas não verão nada. São José também estará lá protegendo a Igreja, como sempre fez, e, se você perseverar vigiando e orando, Deus restaurará suas roupas e dará novamente aos fiéis a dignidade das roupas secas, como deu a Adão e Eva roupas dignas após a queda". De qualquer forma, essa é apenas minha interpretação pessoal.

     Para concluir, há alguns dias alguém me disse: "Padre, não entendo como as pessoas não conseguem ver o que está acontecendo"... Eu também não entendo... nem o apóstolo entendeu e é por isso que ele o chamou de: O mistério da iniquidade. Nossa missão é estarmos atentos aos sinais dos tempos ("Vigilate itaque" - "Vigiai, pois") e continue lutando com coragem pela verdade, apesar dos problemas, do medo e dos sofrimentos, lembrando-se sempre de que a busca pela verdade depende da salvação individual do homem.

     "Militia est vita hominis super terram". (A vida do homem na Terra é uma campanha militar contínua).

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