MEDITAÇÕES DIÁRIAS: OITAVA DA ASCENSÃO

Meditação matinal:  O AMOR DIVINO É UM FOGO QUE INFLAMA O CORAÇÃO - "Tu amoris in eis ignem accende".

     Sabemos, por nossa fé, que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho por meio de seu amor mútuo um pelo outro e, portanto, que o dom do amor que o Senhor infunde em nossas almas, e que é o maior de todos os dons, é particularmente atribuído ao Espírito Santo.  A caridade de Deus é derramada em nosso coração pelo Espírito Santo que nos é dado. - (Rom. v., 5). Portanto, nesta novena, devemos considerar especialmente a grande excelência e o valor do amor divino, para que possamos desejá-lo e trabalhar para obtê-lo por meio de exercícios devotos, mas particularmente por meio da oração fervorosa, pois Jesus disse: Seu Pai, que está nos céus, dará o bom Espírito àqueles que lhe pedirem. - (Lucas xi., 13).

Meditação I:
     Deus ordenou na Antiga Lei que o fogo fosse mantido continuamente aceso em Seu altar: O fogo do altar sempre arderá. - (Lev. vi. 12). São Gregório diz que nossos corações são os altares de Deus, nos quais Ele deseja que o fogo de Seu amor esteja sempre aceso. E, portanto, o Pai Eterno, não satisfeito em ter nos dado Seu Filho Jesus Cristo para nos salvar por Sua morte, também nos daria o Espírito Santo para habitar em nossos corações e mantê-los continuamente inflamados com Seu amor. E o próprio Jesus declarou que foi para influenciar nosso coração com esse santo amor que Ele veio ao mundo, e que nada mais desejava do que vê-lo aceso: Eu vim para enviar fogo sobre a terra; e que mais quero eu senão que ele se acenda? - (Lucas xii., 49). Por isso, esquecendo as injúrias e ingratidões que recebeu dos homens neste mundo, quando subiu ao céu, enviou sobre nós o Espírito Santo. Ó amorosíssimo Redentor, amas-nos, então, não só em teus sofrimentos e ignomínias, mas também em tua glória celestial?
     Até agora, ó meu Deus, nada fiz por Ti, que fizeste coisas tão grandes por mim! Infelizmente, minha mornidão pode merecer que Tu me vomites de Tua boca! Ó Espírito Santo, quente o que é friolivrai-me de minha tepidez e acendei em mim um grande desejo de agradar-Vos.

Meditação II:
     


Leitura espiritual:  O SACRIFÍCIO DA MISSA


Meditação noturna:  A PRÁTICA DO AMOR DE JESUS CRISTO 

"A caridade não age com perversidade."

I. AQUELE QUE AMA JESUS CRISTO EVITA A MORNIDÃO E BUSCA A PERFEIÇÃO

Meditação I:
     São Gregório, em sua explicação dessas palavras, "não age perversamente", diz que a Caridade, entregando-se cada vez mais ao amor de Deus, ignora tudo o que não é correto e santo. O Apóstolo já havia escrito no mesmo sentido, quando chamou a Caridade de vínculo que une as virtudes mais perfeitas na alma.  Tenha caridade, que é o vínculo da perfeição. - (Col. iii., 14). E enquanto a Caridade se deleita na perfeição, ela consequentemente abomina aquela tibieza com a qual algumas pessoas servem a Deus, com o grande risco de perder a caridade, a graça divina, suas próprias almas e tudo o mais.
     At the same time it must be observed that there are two kinds of tepidity or lukewarmness; the one unavoidable, the other avoidable.  From that which is unavoidable, the Saints themselves are not exempt; and this comprises all the failings which are committed by us without full consent, but merely from our natural frailty.  Such are, for example, distractions at prayers, interior disquietudes, useless words, vain curiosity, the wish to appear, tastes in eating and drinking, the movements of concupiscence not instantly repressed, and such like.  We ought to avoid these defects as much as we possibly can; but, owing to the weakness of our nature, caused by the infection of sin, it is impossible to avoid them altogether.  We ought, indeed, to detest them after committing them, because they are displeasing to God; but as we have already remarked, we ought to beware of making them a subject of alarm or disquietude.  St. Francis of Sales wrote as follows: “All such thoughts as create disquietude are not from God, Who is the Prince of Peace; but they proceed always from the devil, or from self-love, or from the good opinion we have of ourselves.”

Meditação II:      

Meditação matinal:  O AMOR DIVINO É UMA LUZ QUE ILUMINA A ALMA - "O Lux Beatissima".

     O Lux Beatissima!  O Espírito Santo, que é chamado de a mais abençoada Luz, é Aquele que não apenas inflama nossos corações para amá-Lo, mas também dissipa todas as trevas e nos revela a vaidade das coisas terrenas. Ó Espírito Santo, visita-me com Tua graça e concede-me o dom do entendimento, para que, pela contemplação das coisas celestiais, eu possa separar meus pensamentos e afeições de todas as vaidades deste mundo miserável.

Meditação I:
     Um dos piores efeitos do pecado de Adão em nós foi o fato de cegar nossa razão por meio das paixões que obscureceram a mente. Oh, quão miserável é a alma que se permite ser governada por qualquer uma das paixões! A paixão é um vapor, um véu, que não nos permite ver a verdade. Como pode fugir do mal aquele que não sabe o que é o mal? Essa obscuridade aumenta na proporção em que nossos pecados aumentam. Mas o Espírito Santo, que é chamado Luz muito abençoada, com Seus raios divinos, não apenas inflama nosso coração para amá-Lo, mas também dissipa nossa escuridão e nos revela a vaidade de todas as coisas do mundo, o valor dos bens eternos, a importância da salvação, o valor da graça, a bondade de Deus, o amor infinito que Ele merece de nós e o imenso amor que Ele nos demonstrou.
     Ó Espírito Santo, Divino Consolador, eu Te adoro como meu verdadeiro Deus, assim como adoro a Deus Pai e a Deus Filho. Suplico-Te que me visites com Tua graça e Teu amor, e que me concedas o dom do entendimento, para que eu possa compreender os Mistérios Divinos e, pela contemplação das coisas celestiais, possa separar meus pensamentos e afeições de todas as vaidades deste mundo miserável.

Meditação II:
     


Leitura espiritual:  O SACRIFÍCIO DA MISSA


Meditação noturna:  A PRÁTICA DO AMOR DE JESUS CRISTO 

II. AQUELE QUE AMA JESUS CRISTO EVITA A MORNIDÃO E BUSCA A PERFEIÇÃO

Meditação I:
     A tepidez, portanto, que impede a perfeição, é aquela tepidez que pode ser evitada quando uma pessoa comete faltas veniais deliberadas; porque todas essas faltas cometidas de olhos abertos podem ser efetivamente evitadas pela graça divina, se tivermos o desejo. Por isso, Santa Teresa disse: "Que Deus o livre do pecado deliberado, por menor que seja". Tais são, por exemplo, inverdades intencionais, pequenas detrações, imprecações, expressões de raiva, zombarias do próximo, palavras cortantes, palavras de autoestima, animosidades nutridas no coração, apegos desordenados a pessoas de sexo diferente. "Esses são uma espécie de verme", escreveu a mesma Santa, "que não é detectado antes de ter comido as virtudes". Por isso, em outro lugar, ela deu esta admoestação: "Por meio de pequenas coisas, o demônio faz buracos para que grandes coisas entrem."
     Devemos, portanto, tremer diante de tais faltas deliberadas, pois elas fazem com que Deus feche Suas mãos para não nos conceder Suas luzes mais claras e Seus auxílios mais fortes, e nos privam das doçuras espirituais; e o resultado disso é fazer com que a alma realize todos os exercícios espirituais com grande cansaço e dor; E assim, com o passar do tempo, ela começa a deixar de lado a oração, as comunhões, as visitas ao Santíssimo Sacramento e as novenas; e, no final, ela provavelmente deixará de lado toda a piedade, como não raro tem acontecido com muitas almas infelizes.

Meditação II:      

Meditação matinal:  AMOR DIVINO: UMA FONTE QUE SATISFAZ - "Riga quod est aridum".

     Deus, que nos ama e deseja nos ver felizes, clama e dá a conhecer a todos: Se alguém tem sede, venha a mim. Eu lhe darei o Espírito Santo, que o tornará abençoado nesta vida e na próxima.  Riga quod est aridum!  Ó meu Jesus, eu Te peço, dê-me a água do Teu amor que me fará esquecer a terra e viver somente para Ti, que és o infinitamente amável!

Meditação I:
     O amor é chamado de fonte viva, fogo, CaridadeFons vivus, ignis, Charitas. Nosso bendito Redentor disse à mulher samaritana: Mas aquele que beber da água que eu lhe der não terá sede para sempre. - (João iv., 13). O amor é a água que satisfaz nossa sede, pois quem ama verdadeiramente a Deus de todo o coração não busca nem deseja outra coisa, porque em Deus encontra todo bem. Por isso, feliz por possuir Deus, ele frequentemente exclama com alegria: Meu Deus e meu Tudo!  Deus Todo-Poderoso se queixa de muitos que buscam prazeres efêmeros e miseráveis nas criaturas e O abandonam, que é a Bondade Infinita e a Fonte de toda alegria: Abandonaram-me, a mim, a fonte de água viva, e cavaram para si cisternas, cisternas rotas, que não retêm água. - (Jer. ii., 13). Enquanto isso, Deus, que nos ama e deseja ver-nos felizes, clama e dá a conhecer a todos: Se alguém tem sede, venha a mim. - (João vii., 37). Quem quiser ser feliz, que venha a Mim, e Eu lhe concederei o Espírito Santo, que o tornará abençoado, tanto nesta vida como na próxima.
     Domine, da mihi hanc aquam! Senhor, dê-me desta água! - (João iv., 15). Ó Jesus, com a samaritana, eu Te peço, dá-me dessa água do Teu amor, que me fará esquecer a terra e viver somente para Ti, que és o infinitamente amável.  Riga quod est aridum!  Minha alma é um solo estéril, que não produz nada além das ervas daninhas e dos espinhos do pecado. Oh, regue-a com Sua santa graça, para que ela possa produzir algum fruto para Sua glória, antes de deixar este mundo na morte!

Meditação II:
     


Leitura espiritual:  A SUBLIME DIGNIDADE DO SACERDÓCIO


Meditação noturna:  A PRÁTICA DO AMOR DE JESUS CRISTO 

III. AQUELE QUE AMA JESUS CRISTO EVITA A MORNIDÃO E BUSCA A PERFEIÇÃO

Meditação I:
     O mal da tepidez decorre do pouco amor que os homens têm por Jesus Cristo. Aqueles que estão cheios de autoestima; aqueles que freqüentemente levam a sério ocorrências que são contrárias a seus desejos; que praticam grande indulgência consigo mesmos por causa de sua saúde; que mantêm o coração aberto a objetos externos e a mente sempre distraída, com uma ânsia de ouvir e saber tantas coisas que não têm nada a ver com o serviço de Deus, mas servem apenas para satisfazer a curiosidade particular; que estão prontas para se ressentir de toda pequena desatenção dos outros e, consequentemente, são frequentemente perturbadas e se tornam negligentes na oração e no recolhimento que, em um momento, são todas devoção e alegria, e no outro, todas impaciência e melancolia, assim como as coisas acontecem de acordo com ou contra seu humor; todas essas pessoas não amam Jesus Cristo, ou O amam muito pouco, e lançam descrédito sobre a verdadeira devoção.
     Mas se alguém se encontrar afundado nesse infeliz estado de tepidez, o que deve fazer? Certamente, é difícil para uma alma que se tornou morna retomar seu antigo fervor; mas nosso Senhor disse que o que o homem não pode fazer, Deus pode muito bem fazer.  As coisas que são impossíveis para o homem são possíveis para Deus. - (Lucas xviii., 27). Quem orar e empregar os meios certamente alcançará seu desejo.
     Agora, o primeiro meio é o desejo de perfeição. Os desejos piedosos são as asas que nos elevam da terra; pois, como diz São Lourenço Justiniano, o desejo "fornece força e alivia a dor". Ele dá força para caminhar em direção à perfeição e alivia o cansaço da jornada. Aquele que tem um desejo real de perfeição não deixa de avançar continuamente em direção a ela; e avançando assim, ele deve finalmente chegar a ela. Ao contrário, aquele que não tem o desejo da perfeição sempre retrocederá e sempre se encontrará mais imperfeito do que antes. Santo Agostinho diz que "não avançar no caminho de Deus é retroceder". Aquele que não se esforça para avançar se verá levado para trás pela corrente de sua natureza corrupta.

Meditação II:      

Meditação matinal:  O AMOR DIVINO É UM ORVALHO QUE FERTILIZA - "In aestu temperies: dulce refrigerium".

     O Amor Divino fertiliza os bons desejos, os propósitos sagrados e as boas obras de nossa alma, e essas são as flores e os frutos que a graça do Espírito Santo produz. Ó Espírito Santo e Divino, não viverei mais para mim mesmo. Passarei todos os dias que me restam de vida amando e agradando a Ti.

Meditação I:
     O Amor Divino é um orvalho que fertiliza a alma. Assim, a Santa Igreja nos ensina a orar: Que a infusão do Espírito Santo purifique nosso coração e o fertilize com a aspersão interior de seu orvalho. O amor fertiliza nossos bons desejos, nossos propósitos santos e as boas obras de nossa alma; essas são as flores e os frutos que a graça do Espírito Santo produz. O amor também é chamado de orvalho, porque esfria o calor dos maus desejos e das tentações. Por isso, o Espírito Santo também é chamado de refresco no excesso de calor e consolo em nossa tristeza. In aestu temperies; dulce refrigerium.
     Ó Espírito Santo e Divino, não viverei mais para mim mesmo; os dias que me restarem de vida, gastarei inteiramente em Te amar e agradar. Por isso, eu Te peço que me conceda o dom da oração. Vem, Tu, ao meu coração e ensina-me a orar como devo. Dá-me forças para não negligenciar a oração nos momentos de secura e cansaço; e dá-me o espírito de oração, isto é, a graça de orar a Ti de tal maneira e de oferecer-Te as orações que Te sejam mais aceitáveis.

Meditação II:
     


Leitura espiritual:  GRANDEZA DO PODER SACERDOTAL


Meditação noturna:  A PRÁTICA DO AMOR DE JESUS CRISTO 

IV. OS MEIOS DE EVITAR A MORNIDÃO E ALCANÇAR A PERFEIÇÃO

Meditação I:
     O segundo meio de perfeição é a resolução de pertencer totalmente a Deus. Muitos são chamados à perfeição; são impelidos a ela pela graça, concebem um desejo por ela; mas como nunca se decidem de fato a adquiri-la, vivem e morrem no mau cheiro de sua vida morna e imperfeita. O desejo de perfeição não é suficiente se não for acompanhado de uma firme determinação de alcançá-la. Quantas almas se alimentam apenas de desejos, mas nunca dão um passo sequer no caminho de Deus! É sobre esses desejos que o Homem Sábio fala quando diz: Os desejos matam os preguiçosos. - (Prov. xxi., 25). O homem preguiçoso está sempre desejando, mas nunca resolve tomar os meios adequados ao seu estado de vida para se tornar um santo. Ele diz: "Ah, se eu estivesse na solidão, e não nesta casa! Oh, se eu pudesse ir morar em outro mosteiro, eu me entregaria inteiramente a Deus!" E, enquanto isso, ele não consegue sustentar uma certa companheira; não consegue suportar uma palavra de contradição; está dissipado em muitas preocupações inúteis; comete mil falhas de gula, curiosidade e orgulho; e ainda assim suspira ao vento: "Ah, se eu tivesse, mas...!" ou "Ah, se eu pudesse, mas...!" Esses desejos fazem mais mal do que bem, porque alguns se regalam com eles e, enquanto isso, continuam levando uma vida de imperfeição. São Francisco de Sales dizia que: "Eu não aprovo uma pessoa que, estando engajada em algum dever ou vocação, suspira por outro tipo de vida que não seja compatível com sua posição atual, ou por outros exercícios inadequados para seu estado atual; pois isso serve apenas para dissipar seu coração e faz com que ele enfraqueça em seus deveres necessários".

Meditação II:

Meditação matinal:  O AMOR DIVINO É UM REPOUSO QUE REFRESCA - "In labore requies: in fletu solatium".

     O Amor Divino é chamado de descanso no trabalho de parto, conforto no luto. Uma alma que ama a Deus encontra paz e contentamento em todas as tribulações e adversidades, simplesmente dizendo: Esta é a vontade do meu Deus.

Meditação I:
     O Amor Divino também é chamado de descanso no trabalho, conforto no luto. In labore requies, in fletu solatium. O amor é um repouso que refresca, porque o principal efeito do amor é unir a vontade do amante com a do amado. Para uma alma que ama a Deus, em toda afronta que recebe, em toda dor que suporta, em toda perda que sofre, é suficiente para torná-la resignada saber que tais coisas lhe são permitidas pela vontade de seu Amado. Ele encontra paz e contentamento em todas as tribulações e adversidades, dizendo: Essa é a vontade do meu Deus. Essa é a paz que supera todos os prazeres dos sentidos: A paz de Deus que excede todo o entendimento. - (Philipp. iv., 7). Santa Maria Madalena de Pazzi, pelo simples fato de repetir: "É a vontade de Deus", ficou imediatamente cheia de alegria.
     Ó meu Deus, quantas vezes, para seguir minha própria vontade, opus-me à Tua santa vontade e a desprezei. Desejo, de hoje em diante, amá-Lo de todo o meu coração.

Meditação II:
     


Leitura espiritual:  O SACERDÓCIO SUPERA TODAS AS OUTRAS DIGNIDADES CRIADAS


Meditação noturna:  A PRÁTICA DO AMOR DE JESUS CRISTO 

V. OS MEIOS DE EVITAR A MORNIDÃO E ALCANÇAR A PERFEIÇÃO

Meditação I:
     A primeira resolução deve ser fazer todos os esforços e morrer em vez de cometer qualquer pecado deliberado, por menor que seja. É verdade que todos os nossos esforços, sem a assistência divina, não podem nos capacitar a vencer as tentações; mas Deus deseja que, de nossa parte, usemos frequentemente essa violência contra nós mesmos, porque então Ele nos suprirá com Sua graça, socorrerá nossa fraqueza e nos capacitará a obter a vitória. Essa resolução remove de nós todo obstáculo para seguirmos em frente e, ao mesmo tempo, nos dá grande coragem, porque nos dá a certeza de estarmos na graça de Deus. São Francisco de Sales escreve: "A melhor segurança que podemos ter neste mundo de estar na graça de Deus não consiste, de fato, em sentir que temos Seu amor, mas em um abandono puro e irrevogável de todo o nosso ser em Suas mãos, e na firme resolução de nunca consentir com o pecado, seja ele grande ou pequeno". Isso é o que se entende por ter uma consciência delicada. Observe que uma coisa é ter uma consciência delicada, e outra é ter uma consciência escrupulosa. Ter uma consciência delicada é um requisito para se tornar um santo; mas ser escrupuloso é um defeito e faz mal; por isso, devemos obedecer a nossos diretores e superar os escrúpulos, que nada mais são do que alarmes vãos e irracionais.

Meditação II:

Meditação matinal:  O AMOR DIVINO NOS FORTALECE - "Fortis est ut mors delectio".

     O amor é forte como a morte. - (Cant. viii., 6). Como não há poder criado que possa resistir à morte, assim também com a alma que ama a Deus não há dificuldade que o amor não possa superar. Ó meu Jesus, enviai o Vosso Espírito Santo para que Ele venha e me fortaleça para fazer e sofrer algo por Vosso amor antes que a morte me alcance.

Meditação I:
     Fortis est ut mors delectio.  O amor é forte como a morte.
     Assim como não há poder criado que possa resistir à morte, para a alma que ama a Deus não há dificuldade que não ceda ao amor. Quando a alma que ama quer agradar seu Amado, o amor supera todas as perdas, desprezos e tristezas: "Nada é tão difícil que não possa ser conquistado pelo fogo do amor". Essa é a marca mais segura para saber se uma alma realmente ama a Deus, sendo tão fiel a Ele quando as coisas são adversas quanto quando são prósperas. São Francisco de Sales diz: "Deus é tão amável quando nos castiga quanto quando nos consola, porque Ele faz as duas coisas por amor".
     Ó Deus da minha alma, eu digo que Te amo, mas o que faço por Teu amor? Nada. É um sinal, portanto, de que ou não Te amo ou Te amo muito pouco. Envie, portanto, ó Jesus, o Espírito Santo sobre mim, e venha me fortalecer para fazer e sofrer algo por Teu amor antes que a morte me alcance. Não permita, Senhor, que eu saia desta vida frio e ingrato, como tenho sido até agora. Dê-me forças para amar os sofrimentos, por causa dos muitos pecados pelos quais mereci o inferno. Ó meu Deus, que sois todo bondade e todo amor, desejais habitar em minha alma, da qual tantas vezes Vos expulsei; vinde e tomai posse dela; habitai nela e fazei-a toda Vossa.

Meditação II:
     


Leitura espiritual:  IR À SANTA COMUNHÃO


Meditação noturna:  A PRÁTICA DO AMOR DE JESUS CRISTO 

VI. OS MEIOS DE EVITAR A MORNIDÃO E ALCANÇAR A PERFEIÇÃO

Meditação I:
     Devemos começar rapidamente e não esperar pelo dia seguinte. Quem sabe se depois encontraremos tempo ou não! Eclesiastes nos aconselha: Tudo o que suas mãos puderem fazer, faça-o com empenho. (Eccles. ix., 10). O que você pode fazer, faça-o logo e não o adie; e ele apresenta a razão disso: Pois nem a obra, nem a razão, nem a sabedoria, nem o conhecimento estarão no inferno, para onde você está indo. (...) Porque na próxima vida não há mais tempo para trabalhar, nem livre-arbítrio para merecer, nem prudência para fazer o bem, nem sabedoria ou experiência para tomar bons conselhos, pois depois da morte o que está feito está feito. Uma freira do convento de Torre de Specchi, em Roma, cujo nome era Irmã Bonaventura, levava uma vida muito morna. Chegou um religioso, o Padre Lancisius, para dar os exercícios espirituais às freiras, e a Irmã Bonaventura, não sentindo nenhuma inclinação para se livrar de sua tepidez, começou a ouvir os exercícios sem nenhuma boa vontade. Mas logo no primeiro sermão, ela foi conquistada pela graça divina, de modo que imediatamente foi aos pés do padre que pregava e lhe disse, com um tom de verdadeira determinação: "Padre, quero me tornar uma santa, e rapidamente uma santa". E, com a ajuda de Deus, ela o fez, pois viveu apenas oito meses depois desse acontecimento e, durante esse curto período, viveu e morreu como santa.

Meditação II:

Meditação matinal:  O AMOR DIVINO FAZ COM QUE DEUS HABITE EM NOSSAS ALMAS - "Dulcis Hospes Animae".

     O Espírito Santo é chamado de Doce hóspede da alma. Essa foi a grande promessa feita por Jesus Cristo àqueles que O amam: Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique convosco para sempre.. - (João xiv., 15, 16).

Meditação I:
     O Espírito Santo é chamado de Doce hóspede da alma. A grande promessa feita por Jesus Cristo àqueles que O amam foi esta: Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique convosco para sempre.. - (João xiv., 15, 16). Portanto, o Espírito Santo nunca abandonará a alma, se a alma não O afastar: Ele não desampara, a menos que seja desamparado.
     Deus, portanto, habita em nossa alma quando O amamos, mas Ele declara que não está satisfeito conosco a menos que O amemos de todo o coração. Santo Agostinho escreve que o Senado Romano não admitia Jesus entre seus deuses, porque, diziam eles, Ele é um Deus orgulhoso, que não quer que outro seja adorado a não ser Ele mesmo. E assim é; Ele não admite um companheiro no coração que O ama; Ele deve habitar lá sozinho e ser o único objeto amado. E quando Ele vê que não é o único objeto amado, fica com ciúmes, por assim dizer, como escreve São João Crisóstomo, das criaturas que dividem com Ele um coração que Ele deseja ter inteiramente para Si.  Você acha que a Escritura diz em vão? O espírito que habita em vocês cobiça a inveja. - (Tiago iv., 5).
     Ó meu Deus, vejo que desejas que eu seja todo Teu. Muitas vezes O expulsei de minha alma e, ainda assim, Você não se recusa a voltar para mim e a se unir a mim. Oh, agora tome posse de todo o meu ser. Eu me entrego hoje inteiramente a Ti.

Meditação II:
     


Leitura espiritual:  IR FREQUENTEMENTE À COMUNHÃO


Meditação noturna:  A PRÁTICA DO AMOR DE JESUS CRISTO 

VII. OS MEIOS DE EVITAR A MORNIDÃO E ALCANÇAR A PERFEIÇÃO

Meditação I:
     O terceiro meio de se tornar um santo é oração mental. John Gerson escreve: "Aquele que não medita sobre as verdades eternas não pode, sem um milagre, levar a vida de um cristão. A razão é que, sem a oração mental, a luz nos falta e andamos na escuridão. As verdades da fé não são vistas pelos olhos do corpo, mas pelos olhos da mente, quando meditamos; aquele que não medita nelas, não as vê e, portanto, caminha na escuridão; e estando na escuridão, ele facilmente se apega às coisas sensíveis, por causa das quais ele acaba desprezando o eterno". Santa Teresa escreveu o seguinte ao bispo de Osma: "Embora pareçamos não descobrir em nós mesmos nenhuma imperfeição, quando Deus abre os olhos da alma, o que costuma fazer na oração, elas aparecem claramente". E São Bernardo já havia dito que aquele que não medita "não se abomina a si mesmo, simplesmente porque não se conhece". "A oração", diz o Santo, "regula os afetos e dirige as ações"; ela mantém os afetos da alma em ordem e dirige todas as nossas ações para Deus; mas sem a oração os afetos se apegam à terra, as ações se conformam aos afetos e, dessa forma, tudo entra em desordem.

Meditação II:

Meditação matinal:  O AMOR DIVINO É UM VÍNCULO SAGRADO QUE UNE A ALMA A DEUS

     Assim como o Espírito Santo é o vínculo indissolúvel que une o Pai e o Verbo Eterno, Ele também é o vínculo que une nossas almas a Deus. Ó Amor, Teu vínculo é tão forte que é capaz de ligar até mesmo Deus e uni-lo às nossas almas!

Meditação I:
     Como o Espírito Santo, que é o Amor incriado, é o vínculo indissolúvel que une o Pai e o Verbo Eterno, assim também Ele une a alma a Deus: "A caridade é uma virtude", diz Santo Agostinho, "que nos une a Deus". Por isso, São Lourenço Justiniano, com grande alegria, exclama: "Ó Amor, quão forte é o Teu vínculo, que é capaz de unir Deus!" Os laços do mundo são laços de morte, mas os laços de Deus são laços de vida e salvação: Suas faixas são uma ligação saudável - (Ecclus. vi., 31), porque os laços de Deus, por meio do amor, nos unem a Deus, que é nossa verdadeira e única vida.
     Antes da vinda de Jesus Cristo, os homens se afastaram de Deus e, apegados à Terra, recusaram-se a unir-se ao Criador; mas nosso amoroso Senhor nos atraiu a Ele pelos laços do amor, conforme predisse o Profeta Oseias: Eu os atrairei com as cordas de Adão, com as faixas do amor. - (Oseias xi., 4). Esses vínculos são Seus benefícios, Suas luzes, Seus apelos para amá-Lo e Suas promessas do céu; mas, acima de tudo, são os dons que Jesus Cristo nos concedeu ao dar-nos a Si mesmo no Sacrifício da Cruz e no Sacramento do Altar e, por fim, ao enviar-nos o Espírito Santo.
     Meu querido Jesus, Tu realmente fizeste muito para me obrigar a Te amar, pagaste muito caro para comprar meu amor; muito ingrato, portanto, eu seria se Te amasse pouco, ou se dividisse meu coração entre Ti e as criaturas, depois de teres derramado Teu Sangue e dado Tua vida por mim. Desejo desapegar-me de todas as outras coisas, a fim de dedicar todo o meu afeto a Ti. Mas sou fraco demais para realizar esse desejo; Tu, que me inspiraste com ele, dá-me forças para realizá-lo.

Meditação II:
     


Leitura espiritual:  IR FREQUENTEMENTE À COMUNHÃO


Meditação noturna:  A PRÁTICA DO AMOR DE JESUS CRISTO 

VIII. OS MEIOS DE EVITAR A MORNIDÃO E ALCANÇAR A PERFEIÇÃO

Meditação I:
     Aquele que deixar de orar deixará de amar Jesus Cristo. A oração é a fornalha abençoada onde o fogo do amor santo é aceso e mantido vivo: E em minha meditação um fogo se acenderá. - (Sl. xxxviii., 4). Foi dito por Santa Catarina de Bolonha: "A pessoa que renuncia à prática da oração quebra a corrente que liga a alma a Deus". Segue-se que o demônio, encontrando a alma fria no amor divino, terá pouca dificuldade em induzi-la a comer um ou outro fruto venenoso. Santa Teresa disse, ao contrário: "Quem quer que persevere na oração, tenha certeza de que, por mais pecados que o demônio o cerque, o Senhor acabará por levá-lo ao refúgio da salvação". Em outro lugar, a Santa diz: "Quem não se detém no caminho da oração, chega mais cedo ou mais tarde". E em outro lugar ela escreve que é por essa razão que o demônio trabalha tão arduamente para afastar as almas da oração, porque ele bem sabe que perdeu a conquista daqueles que perseveram fielmente na oração. Oh, quão grandes são os benefícios que fluem da oração! Na oração, concebemos pensamentos santos, praticamos afeições devotas, despertamos grandes desejos e formamos resoluções eficazes para nos entregarmos totalmente a Deus; e assim a alma é levada, por amor a Ele, a sacrificar os prazeres terrenos e todos os apetites desordenados. Foi dito por São Luís Gonzaga: "Nunca haverá muita perfeição sem muita oração". Que aquele que almeja a perfeição observe bem essa notável frase do santo.

Meditação II:

Meditação matinal:  O AMOR DIVINO É UM TESOURO QUE CONTÉM TODO O BEM - "Infinitus thesaurus hominibus".

     O Amor Divino é aquele tesouro para o qual, segundo o Evangelho, devemos deixar todas as coisas, pois esse amor nos torna participantes da amizade de Deus.  Um tesouro infinito que aqueles que o usam se tornam amigos de Deus.

Meditação I:
     O Amor Divino é aquele Tesouro, para o qual, como diz o Evangelho, o homem deve abrir mão de todas as coisas, pois esse amor nos torna participantes da amizade de Deus: Um tesouro infinito para os homens, que aqueles que o usam se tornam amigos de Deus. - (Wis. vii., 14). "Ó homens", diz Santo Agostinho, "para onde vocês vão em busca de coisas boas? Buscai o único Bem em Quem estão todas as coisas boas". Mas não podemos encontrar o único Bem - a saber, Deus - a menos que renunciemos às coisas da terra. Santa Teresa escreve: "Desapegue seu coração das criaturas e você encontrará Deus". Aquele que encontra Deus, encontra tudo o que pode desejar.  Deleite-se no Senhor, e ele lhe concederá o desejo de seu coração. - (Sl. xxxvi., 4). O coração humano está continuamente buscando coisas boas que possam fazê-lo feliz, mas se as buscar nas criaturas, por mais que as adquira, nunca ficará satisfeito com elas; mas se buscar somente a Deus, Ele satisfará todos os seus desejos. Quem, senão os santos, é mais feliz neste mundo? E por quê? Porque eles desejam e buscam somente a Deus. Um certo príncipe, indo à caça, viu um solitário correndo rapidamente pela floresta e perguntou-lhe o que estava procurando naquele lugar deserto. O solitário respondeu: "E você, ó príncipe, o que está procurando?" O príncipe: "Estou indo em busca de animais selvagens". "E eu", disse o eremita, "estou indo em busca de Deus".
     Meu Deus, até agora eu não Te busquei, mas a mim mesmo e às minhas próprias gratificações, e por isso dei as costas a Ti, meu soberano Bem. Mas me consolo com as palavras de Jeremias: O Senhor é bom para a alma que o busca. - (Lam. iii., 25). Essas palavras me asseguram que Tu, meu Deus, és todo bondade para com aquele que Te busca.

Meditação II:
     


Leitura espiritual:  PREPARAÇÃO PARA A SAGRADA COMUNHÃO


Meditação noturna:  A PRÁTICA DO AMOR DE JESUS CRISTO 

IX. OS MEIOS DE EVITAR A MORNIDÃO E ALCANÇAR A PERFEIÇÃO

Meditação I:
     O resultado da prática da oração é que a pessoa pensa constantemente em Deus. "O verdadeiro amante", diz Santa Teresa, "está sempre atento ao ser amado. E daí se segue que as pessoas que oram estão sempre falando de Deus, sabendo, como sabem, quão agradável é a Deus que Seus amantes se deleitem em conversar sobre Ele e sobre o amor que Ele lhes tem, e que assim se esforcem para acendê-lo nos outros". O mesmo santo escreveu: "Jesus Cristo está sempre presente nas conversas dos servos de Deus, e Ele fica muito satisfeito por ser o objeto de seu deleite".
     A oração, mais uma vez, cria o desejo de se retirar para a solidão, a fim de conversar a sós com Deus e manter o recolhimento interior no cumprimento dos deveres externos necessários; eu digo necessárioO homem de oração deve amar a solidão e evitar a dissipação em assuntos supérfluos e inúteis, caso contrário, perderá o espírito de recolhimento, que é um grande meio de preservar a união com Deus: Minha irmã, minha esposa, é um jardim fechado. - (Cant. iv., 12).

Meditação II: